No presente boletim, abordamos o desempenho econômico do Brasil em 2024, com foco no Produto Interno Bruto (PIB), analisado do ponto de vista da demanda agregada e da oferta agregada, além da análise dos índices de evolução da indústria e do trabalho.
As Figuras 1 e 2 apresentam os resultados do crescimento do PIB brasileiro nos quatro trimestres de 2024, segundo dados das Contas Nacionais Trimestrais divulgados pelo IBGE.
Em 2024, o PIB registrou um crescimento de 3,4%, segundo o Governo Federal (Orçamento (2025)) — resultado acima das projecções iniciais para o ano. A Figura 2 apresenta o PIB da agropecuária e de setores da indústria. Nela, percebemos que a maioria dos setores apresentou variação positiva no último trimestre do ano em relação ao trimestre anterior. Em valores correntes, o PIB brasileiro totalizou R$11,7 trilhões.
Figura 1: PIB do Brasil: Taxa trim. contra trim. imediatamente anterior (%) - Oferta
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados das Contas Nacionais Trimestrais. SIDRA/IBGE.
Na Figura 1, notamos que a construção civil registrou retração apenas no terceiro trimestre, encerrando o ano com desempenho positivo. O aquecimento do mercado de trabalho, o aumento no número de obras impulsionado pelo contexto eleitoral e a retomada do programa Minha Casa, Minha Vida contribuíram para esse resultado (CBIC, 2025).
Na Figura 2, observamos os componentes do PIB pelo lado da demanda. O consumo das famílias apresentou queda apenas no quarto trimestre (–1,0%). O consumo do governo manteve-se relativamente estável no ano. Os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) tiveram desempenho positivo em 2024, apesar da desaceleração observada ao longo dos trimestres. Em 2024, esse componente apresentou crescimento de 7,6%, com destaque para máquinas e equipamentos, que cresceu 12% após queda de 8,4%, em 2023 Fundação Getulio Vargas (FGV) (2024).
Figura 2: PIB do Brasil: Taxa trim. contra trim. imediatamente anterior (%) - Demanda
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados das Contas Nacionais Trimestrais. SIDRA/IBGE.
Com relação ao setor externo, as exportações apresentaram oscilação negativas na maior parte dos trimestres. Esse desempenho pode ser explicado pela queda nos volumes dos fluxos comerciais (FGV, 2025b).
Já as importações cresceram significativamente no primeiro semestre, impulsionadas pelo aumento no volume de bens de capital e bens duráveis (FGV, 2025a).
A Figura 3 apresenta o desempenho de sete segmentos do setor serviços ao longo de 2024. O comércio iniciou o ano com um crescimento de 2,6%, mas apresentou desaceleração nos trimestres seguintes.
Os segmentos de transporte, armazenagem e correio e atividades imobiliarias seguiram trajetória semelhante a do comércio. O segmento de informação e comunicação apresentou bom desempenho no ano.
Atividades financeiras e serviços apresentaram oscilações significativas, enquanto administração pública, defesa, saúde e educação registrou variações mais modestas em comparação aos demais setores.
Figura 3: PIB do Brasil: Taxa trim. contra trim. imediatamente anterior (%) - Serviços
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados das Contas Nacionais Trimestrais. SIDRA/IBGE.
A Figura 4 apresenta o crescimento acumulado em 2024 de diferentes segmentos industriais e da agropecuária. Nela, notamos que o segmento de maior destaque, em 2024, foi o da construção. Por outro lado, a agropecuária foi o único a apresentar crescimento negativo.
Figura 4: PIB do Brasil: Taxa acumulada ao longo do ano (em relação ao mesmo período do ano anterior) (%) - Oferta
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados das Contas Nacionais Trimestrais. SIDRA/IBGE.
A Figura 5 também apresenta o acumulado de 2024, mas para os segmentos do setor de serviços. Os destaques ficam para os segmentos de informação e comunicação e outras atividades de serviços. O comércio também apresentou um bom desempenho e com crescimento ao longo de todo o ano.
Figura 5: PIB do Brasil: Taxa acumulada ao longo do ano (em relac¸a˜o ao mesmo per´ıodo do ano anterior) (%) - Serviços
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados das Contas Nacionais Trimestrais. SIDRA/IBGE.
A Figura 6 mantém a mesma lógica de análise da figura anterior, agora sob a ótica da demanda. Nela, os destaques ficam por conta das importações e investimentos.
Figura 6: PIB do Brasil: Taxa acumulada ao longo do ano (em relac¸a˜o ao mesmo per´ıodo do ano anterior) (%) - Demanda
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados das Contas Nacionais Trimestrais. SIDRA/IBGE.
Na Tabela 1, observamos a variação dos valores correntes entre os anos de 2023 e 2024, em milhões de reais para agropecuária, indústria, serviços, consumo das famílias, consumo do governo, formação bruta de capital fixo, exportações e importações.
No primeiro trimestre, os maiores destaques de crescimento foram registrados no consumo das famílias (8,75%), consumo do governo (8%) e serviços (7,59%).
No segundo trimestre, entre os principais destaques estão importante, investimentos e consumo das famílias, que apresentaram crescimento superiores a 8%.
Na Tabela 2, analisamos a variação dos valores correntes no terceiro e quarto trimestres, além do total acumulado dos anos de 2023 e 2024.
No terceiro trimestre, os principais destaques de crescimento foram importação, investimento e exportação. As importações apresentaram expressivo aumento de 32,79%.
No quarto trimestre, apenas a agropecuária registrou queda em relação ao ano anterior, com recuo de 0,54%. Já os investimentos, a importação e a exportação mantiveram-se como os setores com maior crescimento.
Considerando o total do ano, a agropecuária é o único setor com desempenho negativo, enquanto a importação se destaca como o principal crescimento positivo, com alta de 19,76%. Os investimentos também tiveram bom desempenho em 2024, com avanço de 11,39%.
Tabela 1: Variação dos Valores Correntes (em milhões de R$) — 1º Semestre de 2023 e 2024
1º Trimestre |
2º Trimestre |
||||||
2023 |
2024 |
Variação |
2023 |
2024 |
Variação |
||
Agropecuária |
196.486 |
186.598 |
-5,03% |
194.327 |
195.296 |
0,50% |
|
Indústria |
562.977 |
580.398 |
3,09% |
603.144 |
627.423 |
4,03% |
|
Serviços |
1.501.240 |
1.615.259 |
7,59% |
1.592.737 |
1.710.401 |
7,39% |
|
Consumo das Famílias |
1.635.673 |
1.778.714 |
8,75% |
1.686.827 |
1.828.528 |
8,40% |
|
Consumo do Governo |
435.039 |
469.847 |
8,00% |
511.529 |
545.215 |
6,59% |
|
Formação Bruta de Capital Fixo |
440.153 |
460.503 |
4,62% |
444.049 |
484.963 |
9,21% |
|
Exportação |
467.382 |
454.239 |
-2,81% |
509.059 |
537.411 |
5,57% |
|
Importação |
435.199 |
430.190 |
-1,15% |
423.307 |
493.782 |
16,65% |
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados das Contas Nacionais Trimestrais. SIDRA/IBGE.
Tabela 2: Variação dos Valores Correntes (em milhões de R$) — 2º Semestre de 2023 e 2024
3º Trimestre |
4º Trimestre |
Total anual |
|||||||||
2023 |
2024 |
Variação |
2023 |
2024 |
Variação |
2023 |
2024 |
Variação |
|||
Agropecuária |
157.149 |
162.857 |
3,63% |
111.162 |
110.565 |
-0,54% |
659.124 |
655.316 |
-0,58% |
||
Indústria |
620.226 |
658.553 |
6,18% |
636.966 |
638.564 |
0,25% |
2.423.313 |
2.504.938 |
3,37% |
||
Serviços |
1.629.060 |
1.754.494 |
7,70% |
1.753.118 |
1.886.191 |
7,59% |
6.476.155 |
6.966.345 |
7,57% |
||
Consumo das Famílias |
1.748.852 |
1.915.961 |
9,56% |
1.814.674 |
1.966.674 |
8,38% |
6.886.026 |
7.489.877 |
8,77% |
||
Consumo do Governo |
506.846 |
535.101 |
5,57% |
630.485 |
660.168 |
4,71% |
2.083.899 |
2.210.331 |
6,07% |
||
Formação Bruta de Capital Fixo |
454.830 |
526.794 |
15,82% |
456.877 |
528.204 |
15,61% |
1.795.909 |
2.000.464 |
11,39% |
||
Exportação |
495.090 |
562.216 |
13,56% |
494.914 |
561.906 |
13,54% |
1.966.445 |
2.115.772 |
7,59% |
||
Importação |
426.064 |
565.752 |
32,79% |
433.197 |
567.543 |
31,01% |
1.717.767 |
2.057.267 |
19,76% |
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados das Contas Nacionais Trimestrais. SIDRA/IBGE
Por: Luciano Nakabashi, Rudinei Toneto Jr, Sofia Pauletto e Ruan Cursino Thomé