Este boletim analisa os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), com ênfase na Região Administrativa de Ribeirão Preto e no panorama nacional. O objetivo é apresentar a evolução do saldo de empregos ao longo de 2024, comparando-o com os mesmos períodos de 2023. Além disso, exploramos a movimentação do mercado de trabalho em diferentes atividades econômicas e outros fatores relevantes, proporcionando uma visão abrangente sobre as dinâmicas de geração e fechamento de vagas.
A Figura 1 ilustra o saldo de Empregos Formais por Região Brasileira ilustra o saldo de empregos formais por região brasileira entre novembro de 2023 e outubro de 2024, revelando flutuações sazonais e eventos econômicos regionais. Em dezembro de 2023, houve destruição significativa de vagas em todas as regiões devido à sazonalidade típica de fim de ano. Esse movimento decorre do encerramento de contratos temporários realizados para atender à maior demanda do comércio e da indústria durante eventos como Black Friday e Natal.
No início de 2024, as regiões Sudeste e Sul registraram recuperação na geração de empregos formais. No Sudeste, esse saldo positivo reflete a retomada da atividade industrial e do setor de serviços. Já no Sul, apesar do bom desempenho inicial, observou-se queda acentuada em maio devido às enchentes no Rio Grande do Sul, que impactaram severamente setores como agropecuária e comércio. Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2024), esses eventos climáticos causaram prejuízos relevantes, incluindo perdas agrícolas.
As regiões Norte e Nordeste apresentaram início de ano mais contido devido à alta informalidade e dependência de setores sazonais. No entanto, ambas tiveram recuperação gradual ao longo do semestre, com destaque para o Nordeste, beneficiado pela retomada do setor de turismo, um fator citado em boletins do Ministério do Turismo que apontam crescimento no fluxo de visitantes e eventos regionais.
Entre junho e agosto, o Centro-Oeste manteve estabilidade, apoiado pelo setor agropecuário, que registrou safra recorde de grãos em 2024, conforme dados da CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento (2024). Essa dinâmica também sustentou o mercado de trabalho na região Sudeste, impulsionado por investimentos em infraestrutura e serviços. Entretanto, nos meses de setembro e outubro, a desaceleração do saldo de empregos foi generalizada. Esse movimento reflete, em parte, os efeitos da política monetária restritiva de 2023, que ainda afeta o crédito e o consumo interno, conforme análise do Banco Central do Brasil (2023).
Conforme os dados fornecidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e apresentados na Tabela 1, foram criadas 1.693.673 vagas líquidas (saldo entre admissões e demissões) com carteira assinada em 2024. Esse resultado representa um crescimento de 14% em relação a 2023, quando o saldo foi de 1.483.598.
A Região Centro-Oeste foi a única a apresentar variação negativa no período, registrando uma queda de 12% no saldo de contratações, sendo o resultado puxado pelo menor saldo nas contratações dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em contrapartida, a Região Sul se destacou com o maior crescimento relativo, alcançando um aumento de 51%. Mesmo com os efeitos da inundações, em abril e maio de 2024, o Rio Grande do Sul apresentou um crescimento de 34% no saldo de empregos formais em 2024 em relação ao ano anterior.
Em termos absolutos, a Região Sudeste liderou a criação de empregos formais, com um saldo de 779.170 novas vagas em 2024. Dentro da região, o estado de São Paulo se sobressaiu, registrando a abertura de 459.371 postos de trabalho, o que representa elevação de 18% no saldo, em 2024.
Entre os estados com maior variação percentual negativa, destacam-se Mato Grosso do Sul, com uma redução de 56%, e Mato Grosso, com queda de 37% no saldo de contratações.
Na Tabela 2, observamos os saldos de contratações nos estados e regiões nos meses de dezembro de 2023 e 2024. No panorama nacional, o saldo de contratações no Brasil sofreu redução de 24%. Roraima, Piauí, Paraíba e Rio Grande do Sul foram os únicos estados que registraram elevação no saldo.
Em termos absolutos, a Região Sudeste teve a maior queda no saldo de vagas, passando de -220.928, em dezembro 2023, para -283.401, no mesmo mês de 2024. Dentro da região, o Rio de Janeiro se destacou negativamente, registrando queda no saldo de contratações de 374%, seguido por Minas Gerais, com retração de 48%.
A Tabela 3 apresenta a variação no saldo de vagas formais no acumulado de 2023 e 2024 na Região Metropolitana de Ribeirão Preto (RMRP), que abrange 33 municípios, incluindo Ribeirão Preto.
Entre os destaques positivos, Cravinhos, Jardinópolis e Orlândia registraram os maiores crescimentos percentuais, com 946,31%, 902,12% e 762%, respectivamente. Além disso, Santa Rita do Passa Quatro liderou em variação absoluta, apresentando o maior crescimento no saldo de vagas criadas entre 2023 e 2024.
Por outro lado, entre os municípios com as maiores quedas percentuais, destacam-se Luís Antônio (-292%), Tambaú (-169%), Barrinha (-153%), Taquaral (-145%) e Nuporanga (-137%). Já em termos absolutos, Barrinha, Luís Antônio, Pontal, Tambaú e Nuporanga registraram as maiores reduções no saldo de empregos, cada um reduzindo a geração de empregos formais em mais de 500 postos.
No cenário geral, a RMRP apresentou uma variação percentual negativa de 10,37\%, o que representa uma redução no saldo de geração de empregos em 1.938 vagas formais, sendo tendência oposta ao que ocorreu no Brasil e estado de São Paulo, entre 2023 e 2024.
A Figura 2 apresenta a evolução mensal do saldo de empregos formais por atividades econômicas no Brasil entre novembro de 2023 e outubro de 2024. O setor de serviços liderou a criação de vagas no período, com destaque para os segmentos de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias e administrativas. A recuperação do setor foi favorecida pelo aumento do consumo e investimentos, como destacado pelo Banco Central do Brasil (2023).
A indústria geral foi beneficiada pela recuperação da demanda interna e exportações. No entanto, a criação de vagas desacelerou a partir de maio, refletindo a perda de fôlego. A construção manteve saldo positivo ao longo do ano, impulsionada por programas habitacionais como o Minha Casa, Minha Vida, apesar de oscilações devido à cautela nos investimentos privados, segundo o Governo Federal (2024) e a Câmara Brasileira da Industria da Construção (CBIC) (2024).
O comércio registrou alta volatilidade, inicialmente beneficiado pela retomada do consumo, mas afetado pela inflação persistente. Já a agropecuária teve o menor saldo acumulado, limitada pela mecanização e por choques climáticos, como as enchentes no Sul, embora tenha se beneficiado de safras recordes, conforme dados da CONAB.
Esses resultados mostram a influência da política monetária e fiscal no mercado de trabalho. A recuperação do setor de serviços foi crucial para sustentar o crescimento do emprego, enquanto outros setores enfrentaram desafios específicos.
A Figura 3 ilustra a evolução do salário médio real, deflacionado pelo INPC, tanto de admissões quanto de desligamentos no Brasil, entre janeiro de 2020 e setembro de 2024. O gráfico reflete a dinâmica do mercado de trabalho, com oscilações marcadas por fatores econômicos e conjunturais.
No início da pandemia de COVID-19, em 2020, houve um aumento inicial nos salários reais médios, reflexo da saída desproporcional de trabalhadores menos qualificados, frequentemente associados a remunerações mais baixas. Este movimento foi seguido por uma queda acentuada, à medida que o mercado de trabalho começou a reabsorver esses trabalhadores. Essa dinâmica reflete o choque inicial causado pela pandemia e a posterior recomposição das vagas de trabalho.
A partir de 2022, os salários médios reais voltaram a crescer, tanto em admissões quanto em desligamentos, acompanhando o aquecimento do mercado de trabalho. Esse aumento está relacionado à recuperação econômica pós-pandemia, impulsionada pelo crescimento do PIB e pelo recorde na safra de grãos de 2023, que superou 300 milhões de toneladas, estimulando setores como transporte, agroindústria e comércio (CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento (2023)). Além disso, a redução das restrições sanitárias, a política fiscal expansionista e o aumento da demanda interna contribuíram para a melhora do cenário.
As oscilações, ao longo do período, também refletem fatores externos, como a inflação global e as flutuações nos preços de commodities.
Por fim, destaca-se a convergência gradual entre os salários médios de admissão e desligamento. Essa proximidade sugere uma maior estabilidade no mercado de trabalho, com menor discrepância entre os perfis de trabalhadores contratados e desligados.
Por: Centro de Pesquisa em Economia Regional (Ceper) da Fundace.