O descaso em relação a políticas educacionais e com as questões na área da saúde, elementos que afetam diretamente a economia e a sociedade brasileiras a longo prazo, são os fatores mais preocupantes do atual governo, segundo o professor Luciano Nakabashi.
Na coluna Reflexão Econômica do Jornal da USP desta semana, o professor explica que foram vários os problemas que surgiram, principalmente na pandemia, mas também cita como preocupante a falta de vigilância em alguns momentos e até incentivo ao desmatamento da Amazônia e de outras regiões. “Também preocupa a questão da ideologia, a narrativa de convencer as pessoas de uma forma que gera bastante atrito e com isso percebemos uma sociedade mais dividida e mais propensa a atos de violência.”
O professor cita o exemplo do ex-deputado Roberto Jefferson [na semana do dia 23/10 atirou em policiais federais com fuzil] e considera grave o ocorrido. “Esse fato pode estar vinculado a essa divisão da sociedade e ao engajamento do presidente na questão do armamento. Vários estudos mostram que o armamento gera mais violência e não menos violência.”
Para Nakabashi, para reduzir a violência o único caminho é melhorar a distribuição de renda e, para isso, é necessário investir em educação e saúde, elementos essenciais para a melhoria da produtividade do trabalho. “Países que tiveram sucesso e hoje são desenvolvidos investiram nas pessoas, via acesso à saúde e, principalmente, em educação de qualidade.”
O professor cita o acesso à moradia, com condições razoáveis, boa alimentação e vestimentas como parte do investimento na saúde das pessoas e lembra que a Constituição de 1988 prevê o acesso ao sistema de saúde no País, mas que é preciso políticas públicas que melhorem a eficiência do sistema educacional e do sistema de saúde no Brasil.
Nakabashi enfatiza que todas as medidas e políticas necessárias para melhorar a qualidade vida e a produtividade no Brasil passam pelo investimento em educação de qualidade e que o descaso do atual governo com esse fator impacta atualmente, mas também terá reflexos a longo prazo. “Foi um desastre a condução do fechamento das escolas durante a fase crítica da pandemia. O Brasil foi um dos países onde as escolas ficaram mais tempo fechadas e com as crianças com acesso precário ao ensino remoto.” Para o professor, os mais pobres foram os que mais sofreram com essa falta de acesso e, geralmente, também com lares desestruturados, foram os que tiveram menos suporte da família. “Não só o aprendizado foi prejudicado, mas também o psicológico e esse cenário vai impactar no mercado de trabalho dessas crianças, quando se tornarem adultos.”
Sobre o desmatamento, o professor lembra que ele afeta o próprio ciclo de chuvas no Centro-Oeste do País, o que tem efeito sobre a produtividade do agronegócio. “Além disso, essa questão também tem levado alguns países a restringirem a importação de produtos brasileiros.”
A própria instabilidade e divisão da sociedade, diz o professor, com os conflitos, “acabam afetando o social e o econômico, pois reduzem investimentos e afetam negativamente o País.”
Via: Jornal da USP