Coordenação: Profa. Dra. Valquíria Padilha e Profa. Dra. Márcia Mazzeo Grande.
Introdução: A sociedade brasileira, nos últimos anos, vem apresentando taxas crescentes do endividamento das famílias, o que pode camuflar o empobrecimento, agravado com a pandemia de COVID-191. Junta-se a isso o fato de que, em 2021, o custo de vida ficou mais alto e a renda do brasileiro mais curta (Braga; Buono, 2022). No trimestre de setembro a novembro de 2021, o salário do brasileiro caiu ao menor nível já registrado pela Pnad Contínua, pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que desde 2012 acompanha a força de trabalho no país (Braga; Buono, 2022). Para os mais pobres, a renda média caiu cerca de 21%, enquanto para os mais ricos, a queda salarial foi de 7% (Idem).
Em março de 2022, foi divulgada a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) relatando que o endividamento atingiu 77,5% dos brasileiros, a maior proporção já registrada nos 12 anos do levantamento. Na mesma pesquisa da CNC de 2021, 67% de brasileiros estavam endividados (Alves, 2022, s/p).
Segundo dados de pesquisa realizada pelo Serasa em 20212, o desemprego ainda é o fator mais importante para o endividamento no Brasil, o que afeta mais mulheres e jovens. O cartão de crédito aparece como a principal dívida dos inadimplentes, seguido por carnês de lojas e contas básicas (gás, luz, água) e telefonia. No seu relatório, a Serasa concluiu que 69% das dívidas em cartão de crédito referem-se às compras de alimentos em supermercados enquanto 42% referem-se às compras de roupas e eletrodomésticos. 76% por cento dos entrevistados relataram que não conseguiram quitar suas dívidas em 2021. A mesma pesquisa identificou que grande parte dos endividados sentiu vergonha por ter uma dívida atrasada, teve insônia e dificuldade para dormir por estar preocupado/a e acredita que as dívidas afetaram sua vida social (com parceiros/as e familiares).
Apenas para citar algumas causas prováveis desse endividamento, pode-se pensar nas dinâmicas do nosso sistema financeiro que, por meio das instituições bancárias, incentiva assertivamente, com publicidades e abordagens feitas por diferentes maneiras, a adoção de créditos, empréstimos e financiamentos pelos consumidores. Em grande parte dos casos, as pessoas acabam por arrolar dívidas crescentes por causa dessas práticas e promessas envolventes de felicidade embutidas no “compre agora e pague depois”. Ademais, vale lembrar que esse padrão inclui as práticas de juros altos dos credores, a falta de planejamento das pessoas e a não geração de resultado com as dívidas adquiridas.
O endividamento dos brasileiros é um tema importante que também chegou à Marinha do Brasil, que se preocupa com o endividamento da família naval - composta por militares, servidores civis e seus dependentes.
Desde 2005, o Núcleo de Assistência Social (NAS) da Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) do Complexo Naval da Ponta da Armação (CNPA), trabalha o projeto “Saindo do Vermelho”, como parte do programa de apoio socioeconômico da Diretoria de Assistência Social da Marinha (DASM), o qual inclui temas de endividamento, consumo e educação financeira. A inquietação com o endividamento da família naval está presente no Plano de Assistência Social da Marinha (PASM), válido para 2021-2024, e na Norma de Assistência Social (DGPM 501), que trata dos programas da Assistência Social na instituição.
Objetivos: Nesse contexto, a criação de um Grupo de Extensão sobre o endividamento da família naval, em parceria firmada com o NAS-DHN do Complexo Naval da Ponta da Armação (CNPA) em Niterói-RJ (ver APÊNDICE A), tem o propósito principal de colaborar no sentido de conhecer e atuar, por meio de atividades de pesquisa (conhecer) e de extensão (intervir), o perfil socioeconômico e os valores relacionados ao consumo (desejos e hábitos de consumo) dos oficiais e praças (diferentes hierarquias) que constituem a essência da família naval hoje.
A criação desse Grupo de Extensão - que oficializa e expande uma parceria que existe desde 2017 entre a professora Dra. Valquíria Padilha e o NAS-DHN-CNPA - tem como objetivo principal, então: construir um material preliminar com formulação e sistematização de dados, reflexões e análises para a elaboração de um conjunto de propostas de intervenção, as quais deverão servir de base para ações pontuais e continuadas do NAS-DHN de Niterói-RJ junto à família naval.
A intervenção se dará no sentido de utilizar e construir ferramentas que possam servir para o NAS no aprimoramento do projeto “Saindo do Vermelho” e, assim, no enfrentamento do endividamento observado no cotidiano de atendimentos dos profissionais de Serviço Social junto à família naval. Além disso, com a participação nos estudos do Grupo de Extensão, será oportunizado aos técnicos envolvidos da Marinha o acesso a conhecimentos sobre a realidade societária, especialmente voltados à compreensão dos aspectos geradores de dívidas financeiras junto aos indivíduos e dos valores de consumo praticados na atualidade.