O termo metaverso ganhou destaque na mídia após Mark Zuckerberg mudar o nome da empresa Facebook para Meta, em outubro do ano passado. Com a popularização do termo e a curiosidade da população sobre o assunto, as empresas começaram a investir na tecnologia e utilizar a extensão virtual do mundo físico para ampliar seus negócios.
O professor Ildeberto Aparecido Rodello, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-RP) de Ribeirão Preto da USP, estudioso da realidade virtual e aumentada aplicada a cenários de negócios, diz que “o metaverso é uma representação virtual digital de um ambiente real” e acredita que, apesar de ter um longo caminho pela frente para sua implementação, pode ser uma nova opção para as empresas.
O especialista diz que atualmente existem dois tipos de empresas que utilizam a tecnologia. O primeiro se refere àquelas próprias do metaverso, em que toda a ação acontece no mundo virtual, e cita o universo dos jogos como exemplo: “É um comércio eletrônico puro, onde todos os agentes, processos e produtos são digitais”.
O segundo tipo se refere às empresas físicas que utilizam a tecnologia para movimentar o seu negócio, dando ao cliente a possibilidade de entrar no mundo virtual, escolher seu item e receber a compra na sua casa. Marcas internacionais como Nike e Gucci já utilizam o metaverso para atrair um maior número de clientes.
Por ser um ambiente pouco explorado, Rodello afirma que “ainda é um tanto quanto cedo para se falar realmente em quais benefícios o metaverso pode trazer para as empresas”, mas conta que, por ter uma origem no contexto de redes sociais, seus benefícios estão relacionados aos mesmos delas, como uma maior divulgação de uma marca ou de um produto.
Metaverso e o consumidor brasileiro
Ao analisar a tecnologia sob a ótica do consumidor no Brasil, o professor acredita que o metaverso pode ser bem recepcionado pela população, já que “o brasileiro tem uma propensão ao uso de redes sociais, acesso à internet e compras virtuais também. Eu creio que a adaptação pode ser fácil”.
No entanto, ressalta que essa adaptação não se daria para todas as categorias de produtos. Ao falar em vestuário, o professor não acredita que o consumidor brasileiro utilizaria da tecnologia para comprar roupas, ainda que já existam formas de experimentar o item por realidade aumentada.
Já em relação a outros tipos de produto, como os eletrônicos, eletrodomésticos e equipamentos de grande porte, como colheitadeiras agrícolas, Rodello pensa que as empresas podem obter melhores resultados dentro do metaverso. Fazer demonstrações desses produtos dentro do universo virtual é mais prático, se comparado ao ritual de comprar uma roupa.
Impacto nas relações de trabalho
O especialista conta que, além de alterar a dinâmica entre empresa e consumidor, a tecnologia pode trazer mudanças nas relações de trabalho. No mesmo caminho das transformações ocorridas durante a pandemia da covid-19, como o maior uso do trabalho remoto, o metaverso pode ajudar nas barreiras do mundo físico.
“O metaverso vai ser uma extensão das relações que já existem hoje. Poder trabalhar em ambientes distantes, trabalhar em outro país, sem necessariamente ter que mudar para aquele país”, explica o professor. E ainda ressalta a possibilidade de trabalhar com avatares diferentes, em ambientes diferentes dentro do metaverso.
O professor chama a atenção também para outra importante alteração, que diz respeito às questões legais relacionadas ao trabalho por meios tecnológicos. “Como as pessoas vão ter horas computadas, vão ter o trabalho avaliado, enfim, como elas podem atuar formalmente dentro de um trabalho virtual no metaverso é um ponto que precisa ser analisado com cautela.”
Via: Jornal da USP.