O professor Amaury Patrick Gremaud, do Departamento de Economia, dá sua opinião sobre o Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista (Pimesp) e as cotas públicas.
"O sistema de cotas resolve os problemas de uma parte das pessoas, mas para uma parte enorme o sistema não vai resolver", afirma ele, que já foi diretor de avaliação da Educação Básica no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Na semana passada, o diretor Sigismundo Bialoskorski Neto iniciou o debate sobre o Pimesp e as cotas públicas. Para saber mais sobre o debate iniciado na Faculdade, clique aqui.
Como você avalia as políticas de cotas?
Acho que o Governo do Estado está tentando se antecipar. Essa questão [de cotas] deve aparecer logo na Assembleia Legislativa já que há uma pesquisa do Ibope que mostra que 75% da população brasileira é a favor das cotas por classes econômicas e dois terços são a favor das cotas étnicas. Então, essa é uma discussão difícil de fugir e essas cotas vêm um pouco por conta de uma percepção da população de que a desigualdade no País precisa de ações afirmativas. Há uma ideia clássica de que com a educação irá se criar, para os mais necessitados, oportunidades de mobilidade social. Apesar de todo mundo estar na escola e ter aumentado o número de anos que as pessoas estudam no Brasil, a grande massa populacional estuda em escolas públicas, que não permitem acesso às universidades de qualidade. Nesta hora, há dois movimentos: um mais difícil, que é melhorar a qualidade da educação pública, e o outro, que é mudar o gargalo. E é aí que surgem as cotas. Qual o grande problema com o sistema de cotas do meu ponto de vista? Imaginar que em partes está se resolvendo o problema dessa inversão da posição das escolas e esquecer-se do outro lado. Receio que a pressão exercida pela a sociedade, que foi fundamental para o governo se mexer sobre a educação e, melhorá-la, em particular a do Ensino Médio, vá diminuir. O número de pessoas que entrará nas universidades pelos sistemas de cotas ainda é pequeno frente à dimensão do Ensino Médio. Não sou contra as cotas. O sistema de cotas resolve os problemas de uma parte das pessoas, mas para a grande maioria, não vai resolver.
As cotas podem afetar a qualidade das universidades paulistas?
A principal crítica que se faz ao sistema de cotas é a questão meritocrática, de que são pessoas com menor qualificação que vão entrar nas universidades. Essa queda na qualidade teria um efeito ruim para a própria universidade e para a sociedade. Esse é um argumento muito usado, mas ele tem um problema, pelo menos para a sociedade, que se mostra favorável ao sistema de cotas. Historicamente, essas universidades contribuíam para o desenvolvimento do País, mas uma boa parte da sociedade olha e pensa: o Brasil se beneficiou, mas quem no Brasil se beneficiou? Há uma parcela grande da população olhando esse argumento meritocrático e dizendo "tudo bem, o Brasil vai melhorar com universidade de ponta no País, mas é necessário fazer alguma coisa para que esses benefícios de uma universidade de ponta sejam distribuídos de uma maneira mais justa dentro da sociedade". Então o argumento meritocrático está em uma situação difícil de ser defendida hoje porque ele não mostra que a meritocracia gera benefícios para toda a população, mas sim para um pequeno grupo.
O programa do governo estadual prevê que os alunos realizem um curso prévio, de dois anos, antes de ingressar nas universidades, uma espécie de college. Como você avalia isso?
A ideia não é ruim, mas por mais que se coloque ali duas mil ou cinco mil pessoas é pouco frente à dimensão do Ensino Médio. Não está claro ainda a forma de ingresso nesse college. Há uma discussão sobre as disciplinas que serão ministradas e, por hora, são poucas opções. As boas experiências de college que existem nos Estados Unidos e Inglaterra são exatamente o contrário, onde o college dá várias opções. Acho que aqui estamos perdendo a oportunidade de copiar boas práticas, como fazer esses grandes colleges onde se escolhe as linhas de ação.
Qual seria a sua sugestão para substituir a implantação dos colleges nas universidades estaduais?
A melhor opção seria as universidades irem ao Ensino Médio. As três universidades públicas paulistas poderiam se juntarpara dar aulas nas escolas do Ensino Médio e com o apoio da Secretaria da Educação assumir essa responsabilidade, proporcionando um Ensino Médio integral, oferecendo assim um ensino mais qualificado a um grande público, e não para uma minoria. Obviamente, isso dá trabalho, mas penso ser uma política mais desejável. Ao invés do college nas universidades, fazer uma ação das universidades estruturarem, uma espécie de college no Ensino Médio, no contra turno. Em alguns casos, podendo até haver algumas disciplinas à distância, atingindo, assim, um público maior.
Foto: Seção Técnica de Informática (STI)
Amaury Patrick Gremaud