Quarta, 03 Abril 2013 19:04

Professora Adriana Procópio fala sobre sua experiência na Universidade de Illinois

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A professora Adriana Maria Procópio de Araújo está, desde julho do ano passado, participando do visiting scholars program da University of Illinois at Urbana-Champaign College of Law. A Universidade, que contabiliza mais de 20 ganhadores de Prêmio Nobel, teve seu Campus fundado em 1867 e é considerada uma Universidade de grande porte com mais de 30.000 estudantes em diversas áreas do conhecimento (maiores detalhes vide: http://illinois.edu/).


Adriana está pesquisando o conteúdo de contabilidade que se tem da Law School durante os cursos (degree, master e doctor). Sua presença na universidade americana faz parte dos esforços de internacionalização da FEA-RP.


Conversamos por e-mail com a professora Adriana, que é bolsista FAPESP, sobre sua estada que termina em julho deste ano. Ela aproveitou a oportunidade para agradecer a USP por sua carreira desenvolvida na universidade, à FEA-RP/USP e ao Departamento de Contabilidade pela aprovação do pedido de afastamento e à FAPESP pelo apoio financeiro ao projeto.


Como foi o processo para chegar até este pós-doutorado?
Normalmente o convite é feito por um professor daqui dado um contato prévio. No meu caso, estive em um comitê de banca de doutorado aqui na Universidade de Illinois em 2009 e conheci alguns professores. Mantive contato com esses professores e um deles me ofereceu um convite oficial para vir passar um ano na Universidade. Esse convite oficial é o primeiro documento necessário à entrada para a Universidade aqui, para o pedido de bolsa aos órgãos de fomento a pesquisa do Brasil e para o pedido oficial de afastamento ao Departamento e à FEA-RP/USP.


Você está vinculada a algum departamento, grupo de pesquisa ou orientador, tem previsão de retorno? Qual é a pesquisa que você está desenvolvendo aí?
A estrutura para receber visitantes do exterior é excelente. São vários pesquisadores de países diferentes. No College of Law, convivo com pesquisadores da China, Coreia do Sul, Japão, América Central (vários países). Todos os visitantes possuem um espaço privativo na Biblioteca e podem ter acesso a qualquer evento promovido pelo Colégio. Não estou vinculada a nenhum departamento, até porque a estrutura daqui é diferente do que estamos acostumados na USP. Um professor o convida e ele é o seu responsável aqui. Temos vários núcleos de pesquisas que podemos frequentar e assistir aulas e palestras. Depende de cada um fazer seus próprios contatos e se inserir.

A minha pesquisa é sobre a formação da Law School no tocante ao conteúdo de contabilidade que se tem durante os cursos (degree, master e doctor). Aqui tem uma estrutura consolidada de ensino contábil para a formação do Direito. Diferentemente do Brasil, em que normalmente, se oferece uma disciplina obrigatória de contabilidade para a formação do Direito, aqui é comum várias disciplinas durante o curso. O College of Law possui uma estrutura de interdisciplinaridade extremamente favorável para a formação conjunta com vários outros colégios do Campus, incluindo a Business School. Conheci professores da Business School que trabalham em conjunto com a Law School e vice-versa, facilitando as pesquisas conjuntas na área corporate.
Aqui o ano letivo tem início na última semana de agosto de cada ano e termina na última semana de maio do ano seguinte. Junho e julho são meses de férias e são oferecidos os cursos de verão. Embora sejam meses de férias, a movimentação na Universidade é intensa devido a esses cursos de verão. Além disso, é perfeitamente possível frequentar cursos de inglês na Universidade e fora daqui. Alguns lugares oferecem cursos de inglês para estrangeiros com custo zero e com diversas atividades para inserção cultural dos estrangeiros.
Além disso, contei com o apoio prévio de professores daqui para orientação sobre processo de matrícula dos meus filhos em escolas da cidade. Essa ajuda foi fundamental para organizar a rotina de vida aqui. A Universidade também oferece opções de moradia no próprio Campus.
É possível comparar o nível de ensino e pesquisa realizado aí na University of Illinois e na FEA-RP?
Esta é uma questão delicada. Estamos falando de culturas diferentes e obviamente, a realidade é outra. O método de ensino pode ser comparado e o que observei é que é bem similar ao nosso. Aulas expositivas dos professores, seminários dos alunos, palestras na mesma formatação que acontece no Brasil. Entretanto, existe uma lacuna muito grande entre a disciplina daqui se comparada com o Brasil. Disciplina em todos os sentidos: pontualidade nas atividades desenvolvidas com início e término exatamente como divulgado, horas de estudo e dedicação à pesquisa, agenda e cronograma de todas as atividades com uma organização impecável. Enfim, tudo funciona com uma organização perfeita. As aulas são iniciadas nos horários determinados e terminadas exatamente no horário. As palestras são oferecidas também com esse rigor. Aliás, todas as atividades mantém esse rigor. A cobrança por parte dos docentes aos alunos por suas atividades em sala e extra sala também seguem a mesma metodologia do rigor. A dedicação à pesquisa é evidente em qualquer lugar na Instituição. A carreira docente daqui é diferente da nossa estrutura e a medição de qualidade se dá em publicações dos docentes em periódicos de renome na área. É comum um docente não ser doutor e estar entre os melhores do Colégio. A qualidade da pesquisa é em função da sua publicação. Vale ressaltar também que temos colegas nossos com um reconhecimento admirável aqui, como por exemplo, o Prof Walter Beluzzo está como professor em uma disciplina obrigatória do programa de doutorado da Business School.


Qual o nível de interesse e de conhecimento dos pesquisadores norte-americanos com relação à ciência produzida no Brasil?
Conversando com alguns docentes daqui, observo que houve um crescimento do interesse em pesquisas no Brasil, se comparado com minha percepção de 2009, quando estive por um mês na Universidade. Alguns docentes relatam que precisam conhecer melhor a estrutura econômica e conjuntural do Brasil para desenvolver pesquisas. Outros docentes relatam que já estão com pesquisas iniciadas com algum parceiro no Brasil. Aí a maioria opta por instituições privadas em que o processo de convênio e intercâmbio com alunos e professores é menos burocrático e mais facilmente implantado entre as partes. A percepção que tenho é que ainda estamos longe de um reconhecimento de mérito para os pesquisadores daqui, ou seja, a nossa imagem é de país subdesenvolvido com pesquisas frágeis e conhecimento incipiente. À medida que vamos nos relacionando com os docentes, o respeito pelo nosso trabalho começa a surgir e vários manifestam interesse em conhecer ou retornar ao Brasil e alguns mencionam a Universidade de São Paulo como centro de referência da América do Sul. O que mais me chama a atenção é que todos estão muito abertos e receptivos para conversas e troca de experiências. Eles são super atenciosos e querem discutir trabalhos em conjunto. A experiência aqui está sendo maravilhosa e acredito que levarei ótimos contatos para a FEA-RP/USP.

 

Foto: Arquivo

Professora Adriana Procópio

Lido 5090 vezes Última modificação em Quarta, 03 Abril 2013 20:05